•Takashi Morita é um hibakusha – nome pelo qual são conhecidos os sobreviventes das explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki.
Ele conta o horror que passou durante a explosão da bomba atômica.
Ele conta o horror que passou durante a explosão da bomba atômica.
•Álbum de Morita
Aos 21 anos, Takashi Morita presenciou o início da era atômica. Hoje, com 87, é dono de uma mercearia no bairro do Jabaquara, em São Paulo, e preside a Associação dos Hibakushas no Brasil.Para o comerciante Takashi Morita, as imagens do Japão arrasado pelo terremoto, pelo tsunami e agora sob o temor do risco nuclear são um “pesadelo”. Aos 87 anos, ele é uma pessoa lúcida e bem humorado e mora em São Paulo desde 1956. Ele conta como sobreviveu, em 6 de agosto de 1945, à bomba nuclear jogada sobre a cidade japonesa de Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial. A bomba explodiu a cerca de 1,3 km de onde Morita estava. Na época, ele era soldado da polícia japonesa e tinha 21 anos
–A bomba explodiu bem no centro de Hiroshima, a 580 metros de altura, numa bola de fogo que atingiu cerca de 230 metros de raio. Calcula-se que no hipocentro – o ponto em terra exatamente abaixo da explosão –, a temperatura atingiu de 3.000 a 4.000 graus centígrados. É mais do que o dobro da temperatura necessária para fundir o ferro, em torno de 1.500 graus. Os dados são do livro The legacy of Hiroshima, do físico japonês Naomi Shohno, citado numa reportagem que Roberto Pompeu de Toledo publicou em 1995 – cinqüentenário da explosão – na revista Veja. “Foi como sofrer um esbarrão do sol”, definiu Pompeu de Toledo. Um esbarrão que tirou a vida de dezenas de milhares de seres humanos.
•“Lembro-me como se fosse hoje. Eu estava caminhando nas ruas da cidade quando a bomba caiu. Primeiro foi um clarão, depois uma escuridão. Então começou uma chuva preta, e as pessoas que estavam queimadas abriam a boca para tomar aquela água contaminada. Eu via pessoas queimadas, dilaceradas, andando com as tripas arrastando pelo chão, a pele pendurada, pedindo água e implorando por socorro.” diz Morita, relembrando o inferno que viveu.
Morita foi diagnosticado com leucemia duas vezes enquanto ainda morava no Japão, onde fez tratamentos. Desde que se mudou para o Brasil, apesar de problemas de coração e diabetes, nunca
•Fui recrutado para a aeronáutica com 15 anos e desde então, fui treinado para ser um kamikaze. Não tinha medo de morrer. Por quê? Era jovem demais e desde pequeno me ensinaram que o Japão era o país divino, que morrer por ele era uma grande honra. Que garoto não gostaria de ser um herói?”, conta Manabu Ashihara. Como não tinha idade suficiente para pilotar um avião, ele aprendeu a lidar com a parte mecânica. Aos 16 anos, em um treinamento sobrevoando o mar, ocorreu um acidente e o avião caiu. Por sorte, conseguiu escapar com vida, mas o oficial que estava pilotando morreu.
•“Depois do acidente, fui transferido para a Marinha. Mesmo assim a minha sentença de morte me acompanhou. Fui designado para ser um tripulante do “maruyontei”, uma espécie de barco motorizado pequeno, com 250kg de explosivos. O objetivo era o mesmo de um kamikaze. Minha missão era fazer com que o barquinho se chocasse com o navio inimigo”, conta.
•Nenhum “maruyontei” jamais afundou um navio americano. Mas o governo japonês divulgava ao povo que estas missões eram um sucesso. Faz sentido, já que nenhuma mãe permitiria que o filho participasse de uma missão suicida sabendo que esta seria em vão. Mesmo assim ninguém era capaz de se rebelar, pois existia muita opressão. O governo insistia em alimentar a esperança de que ainda poderíamos virar a guerra. A ilusão só foi quebrada quando a bomba explodiu. A tarefa final de Ashihara seria ir à base militar de Okinawa e embarcar num “maruyontei” dia 21 de agosto de 1945. Nesse dia, ele morreria pela pátria.
•Por ironia do destino, duas semanas antes da missão, ele recebeu folga e voltou para Nagasaki a fim de reencontrar a família e os amigos. “Foi justamente na minha estadia na cidade que a bomba caiu. Todos os soldados foram designados para ajudar os feridos. Foi uma visão terrível. Não dá para explicar em palavras. Vozes pedindo socorro no meio dos escombros, pais desesperados à procura de filhos desaparecidos e órfãos desamparados. Não havia muita coisa a fazer, a não ser retirar os corpos queimados. Infelizmente são lembranças que nenhum documento pode provar.”
•Manabu Ashihara, 76 anos, de Nagasaki